Arts&Crafts

... aquilo que me vai pelo pensamento ...

segunda-feira, agosto 27, 2007

Maputo, 18 Janeiro 2007

Engraçado, primeira escrita em 2007...

Estamos na Praia da Costa do Sol, linda? ... não se pode atribuir tal feito à mãe Natureza, apenas diferente e com águas que nos envolvem sem sentirmos qualquer frescura.

Pois bem, chegamos ontem 5ªfeira e o calor a fazer colar a roupa, sair do avião e a pé caminhar pela pista, só podia estar em terras de África!
No avião as peles são estranhamente brancas, muitos irão para Joanesburgo, poucos turistas, muita emigração.
Ninguém nos esperava, espanto mas sem sobressalto. Ir ao wc, aliviar e lavar o corpo fez-me recuperar energia, vontade de inspirar e sentir o cheiro das gentes a ´catinga´, a terra, a suor, a sabão, a lixo...
Telefonamos às Irmãs de Maputo, apressam-se para nos vir buscar. Decepção, apenas domingo iremos para Inharime, até lá seremos simples turistas em Maputo, aguardamos a vinda dos outros voluntários de Itália. Tristes, mas como seres humanos que somos adaptamos-nos.

Chegados à casa das Irmãs almoçamos; disfarçamos no momento de agradecimento a Deus a nossa distância à sua religião.

(Enquanto escrevo aproximam-se 2 meninas e um menino que há pouco nadavam no mar castanho e quente, riem-se, rodeiam-nos e mesmo sem palavras iniciamos um diálogo, ... nós estamos aqui se precisarem... não sei quem protege quem e de quê, apenas sei que o seu sorriso no meio da sua carinha castanha, nunca percebi o termo "preto", porque para mim a pele é castanha, é quente, mais expressivo que este meu de cara pálida... estranha esta sensação de me sentir realmente demasiado branca, uma aberração!)

Bem mas ía eu no primeiro almoço; comemos massa com frango, arroz e feijão com salsicha. No início sopa... sabores similares aos nossos e já não entendo quem ensinou a quem, ou talvez todos estes sabores sejam um mescla das 2 culturas... a tal comida de "fusão".

(Eles continuam na árvore, dependurados, lembram-me as aventuras do Tom Sawyer e fazem-me ter vontade de que os meus filhos vivam assim, tenho a certeza que não serei corajosa, mas sonho...)

Almoçamos, banho e andamos a pé, descobrindo que os cafés dos brancos são dos tugas, com todos os bolos, queques, natas, até mesmo os salgados, com o café Delta, os sumos Compal, a água Allandro, ... e tantos Millenium BIM. Afinal tivemos aqui, apesar de se conduzir "à inglesa", influência da África do Sul, o português lento, bem lento é a língua falada e escrita.

Jantamos cedo, 19h e dormir. Acordo à 1h a pensar que já era hora de acordar, afinal... fico até às 3h sem nada fazer, apenas a barafustar sozinha contra o ar condicionado do vizinho, supostamente avariado há anos, bem se podia calar. Adormeço!
Acordo várias vezes com o calor, apesar da ventoinha ligada, picadas de mosquito, barulhos e zás, são 7h da manhã. Pequeno almoço igual, pão, fruta, manteiga, compota e um excelente café passado. Incrivelmente bebo logo água pela manhã... não admira, porque apenas passam 10m depois do meu primeiro banho com a cabeça ainda molhada e já transpiro que nem uma égua :). Começo a entender a vontade de nada fazer das gentes que se vê pela rua, 3 ou 4 em tarefas que um fazia e conversa mais conversa...

Saímos em busca de um posto de turismo, um branco, talvez nórdico ri-se entre dentes "posto de turismo?" "aqui não há, não como no vosso país". Tudo marcado, amanhã alugamos uma pick-up Isuki, a maioria dos carros são japoneses ou chineses, e vamos pela costa a norte até Xai-xai, talvez fiquemos a dormir no caminho, sem destino, sem planos, apenas vontade de ver o que estas terras têm.
Almoçamos caril de camarão e espetada de marisco, simples mas maravilhoso... mais cervejas...

Agora aqui na praia estão os 3 meninos a meu lado a tentarem ler o que escrevo, mas não me apetece falar, não quero interferir na cena, prefiro admirar a sua brincadeira...
Não resisti... é a Elina, a Emília e o Eugénio... 10, 7 e 9 anos, talvez, porque não sabem bem a idade, mas com calma lá conseguimos saber, a Emília não se entende bem a falar, esta minha pronúncia do norte também é difícil de se fazer entender!
A água continua quente.. o mar já cobriu as suas raízes!

Esplanada, brancos e mais brancos, cerveja, caju e vento quente. Difícil resistir, ficar numa e não seguir para a segunda, o caju ajuda, o calor, o cheiro da terra, os sorrisos... até o artesanato, bebo!
Música brasileira, sinto saudades do meu amor, agora mesmo o beijava com a bênção do vento, destes sorrisos!

Hoje de manhã o padre Frei... começou a manhã a tentar casar-me.. piadas, jamais adivinharia que representando a Igreja Católica pudesse ser dotado de tanto humor, simples mas envolvente.
Passa um carro cor de rosa...

Aqui a vida passa muito devagar!


nota: carta encontrada no meio das minhas arrumações

A VIDA É BELA

4 comentários:

CARMO disse...

Curioso... por vezes dei por mim a pensar no mesmo dilema quanto à palavra preto!
Estava ansioso por este dia... o dia em que começasses a contar as tuas histórias de Moçambique aqui no bloque, com esse detalhe que me encanta.
Beijinhos!

Anónimo disse...

estou entusiasmada com o conto e espero que continues...

casar casar acabou por resultar :-)

beijinhos e obrigada por estares por cá! Melhores dias vêm aí...

Anónimo disse...

Finalmente as férias acabaram ;-) é bom ter esta escrita de volta!

Como já te disse é uma delicia ler o que escreves, ainda p/ mais de Moçambique (e não só), onde consegues tão bem passar o teu real sentimento...
Bom, mt bom mesmo :-)

um bjinho para a minha defensora "MELGA"

Anónimo disse...

Olá amiga;

Que bom é ler este texto, que fizeram em mim a pele arrepiar, com estas palavras tão carregadas de emoção e sentimento verdadeiro, onde é tão dificil encontrar;
gostava de um dia visitar essa abennçoada Terra para assim avaliar esse tão grandioso encanto q faz em ti brilhar de emoção e felicidade.
Os sonhos podem se concretizar, que maravilha.
Beijos carregados de bons sentimentos, amizade e de esperança.