A vida tem sempre o seu mistério e quando este pretende desaparecer, quando tudo o que se vai passar a seguir parece ser previsível, tudo deixa de ter o gosto do incerto, do medo, dos perigos, do buraco sem fundo...
Aprendemos a recear o incerto, a procurar a estabilidade em todas as faces da nossa vida e quando o alcançamos sentimos um vazio, sentimos mesmo um desejar da infelicidade, ou melhor do risco do futuro ser algo menos bom, longe do que esperávamos.
A vida é esta roda viva, procuramos a plenitude, o equilíbrio da balança e quando finalmente o o encontramos procuramos desesperadamente forma de o destruir, nem que seja na inveja do mundo que nos ensinaram desde cedo, ninguém querer pertencer - dos que nada têm e tudo anseiam!
Está tão perto, bem vizinho do meu presente, assusta-me esta calma, assemelha-se a uma encruzilhada, inveja e mais inveja de quem nada tem! Este equilíbrio antes de mais não tenho a ilusão de ser o melhor para mim, o melhor para mim era ser tudo como eu quero, mas a tal de Democracia... essa não é o melhor para mim, é um desenrolar de cedências, de por vezes nos esquecermos afinal quem somos, para onde queremos ir, afinal que desejamos, que sonhos temos?!
É uma luta diária para não ser desprezível a desejar mais, quando tudo temos dentro dos parâmetros sociais em vigor. E.g.: quanto mais ganhamos mais gastamos, sair com amigos, ser feliz sem dinheiro.. grande questão para a qual não obtive ainda resposta. Ser amada, desejada, odiada, invejada e não poder dizer que afinal não é tudo um arco íris ... a vida são momentos, pedaços de felicidade!
Luto para na simplicidade ser feliz, na forma mais pura, de apreciar o que me dão, o que tenho.. de não criticar quem me rodeia, de não viver em prol de sonhos inalcancáveis, viver o presente e o dia de amanhã, e o futuro como se fosse um rebuçado com papel, que apenas ao desembrulhar poderei apreciar o seu sabor!
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Em Albufeira entrei numa casa que era uma peixaria, algures no tempo foi uma sala, neste dia apenas vi peixe e mãe e filha de lágrima no olho. A mãe sorriu para mim, para contornar o

momento comento "os gatos têm bom gosto, não largam aqui a casa do peixe". A mãe responde-me que cuida deles todos, assim como de 2 gaivotas a quem todos os finais do dia dá restos de peixe, e também alguns animais que apareçam..."tinha uma canina, agora apenas tenho o canino, ela morreu... ele deixou de comer, conto isto porque me parece que vocês gostam de animais... tenho de lhe por uma babete e dar na boquinha as sopas de leite e pão... e vê-lo assim fico triste, que saudades da minha canina (cadela)".
Concluo que as lágrimas iniciais são por ela... na cumplicidade rimo-nos baixinho para ninguém lá fora nos ouvir. Com isto a filha abre o coração e diz que é uma ´perdida´por animais, não os pode ver abandonados, já tem lá em casa 5 e uns quantos que alimenta junto ao emprego, a caminho de casa, etc.. É mãe mas diz que tal como a filha os caninos são filhos, merecem a vida com muita felicidade. Compreendo porque ainda hoje choro ao lembrar-me da minha bela gatinha branca, que realmente são mais importantes que outros seres humanos que nos rodeiam. A mãe diz no meio de lágrimas "e sabe, mataram-me o marido no hospital, foi lá para limpar uma veia e já não voltou..." sinto urgência em sair, não sei que dizer, não há nada a dizer, silêncio, as minhas lágrimas ultrapassam sempre a razão ..." o canito vai lamber o retrato do dono, continuo sem conseguir entrar pelo portão do quintal, lembra-me ele a entrar, o cão a saltar para ele, a dar-lhe um beijo, pouco tempo passou, mas esses doutores mataram-me o marido....