Se os artistas são os ‘arrumadores’ por excelência, também existem os ‘desarrumadores’ por excelência. São os que julgam que a sua vontade é a única que vale.
Os que, além disso, têm o poder suficiente para a fazerem valer.
Os que julgam ter a potestade para decidirem sobre as vidas humanas.
Os que põem a mentira em vez da verdade, a morte em vez da vida, o ódio em vez do amor dentro do coração, obstaculizando por completo o fluxo do rio da vida.
Definitivamente, o coração não é o lugar adequado para o ódio.
Qual é o seu lugar? Não sei. Esta é uma das incógnitas do Universo. Ate parece que os Deuses gostam da confusão, pois ao não terem criado um lugar especifico para lá porem o ódio, provocaram o caos eterno.
O ódio procura forçosamente um lugar, introduzindo-se onde não deve, ocupando um lugar que não lhe pertence, expulsando inevitavelmente o amor.
E a natureza que, ao contrário dos Deuses, é muito ordenada, quase neurótica, poder-se-ia dizer, sente a necessidade de entrar em acção para manter o equilíbrio e pôr as coisas onde devem estar. Não pode permitir que o ódio se instale dentro do coração, pois esta energia impediria a circulação da energia amorosa dentro do corpo humano, com o grave perigo de, tal como a água estagnada, a alma empestar e apodrecer. Tentará tirá-lo, pois, seja como for.
É muito simples fazê-lo quando o ódio se aninhou no nosso coração por engano ou descuido. ...
Ao faze-lo, a alma separa-se do corpo.
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A energia do ódio é tão pesada, literalmente falando, que não percebe destas subtilezas e é-lhe impossível elevar-se juntamente com a alma. Fica dentro do corpo, mas como já não se encontra, não encontra lugar onde se sinta bem, e decide ir em busca de um lugar mais acolhedor. Quando a alma regressa ao seu corpo, já existe um sitio dentro do coração para o amor ocupar o seu lugar. Assim tão simples.
O problema existe quando o ódio foi posto no nosso coração pela acção directa de um ‘desarrumador’. ... Nesses casos o único que nos pode tirar o ódio é o próprio agressor. Assim o indica a Lei do Amor....
Na maioria das vezes não é suficiente uma vida para se conseguir isso. Por isso, a natureza permite a reencarnação, para dar oportunidade aos ‘desarrumadores’ de arranjarem as suas confusõezinhas.
Quando há ódio entre duas pessoas, a vida reuni-las-á tantas vezes quantas forem necessárias ate este desaparecer. Nascerão uma vez e outra perto um do outro, ate aprenderem a amar-se.
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Laura Esquivel – "A Lei do Amor"
Nb: ler isto ao som da árida "O Mio Babbino Caro" recomendado pela autora flui magicamente
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